terça-feira, 1 de abril de 2014

Profissional em extinção?

Profissional em extinção?
O panorama atual do biólogo no mercado brasileiro.
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por
Renan Garcia de Oliveira
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Há pouco tempo, preocupado com a minha atual condição de recém-formado em Biologia, fiz-me a seguinte pergunta: para onde vão os biólogos no mercado de trabalho? Para tirar essa dúvida, elaborei um simples questionário que ficou disponibilizado na internet por 1 semana, em que foi pedido que apenas os biólogos formados nos últimos 10 anos respondessem a ele. Assim, foi possível coletar importantes informações de 400 colegas de trabalho e que serão discutidas ao longo desse pequeno artigo.


Quando perguntados em relação ao vínculo profissional atual, 60% dos biólogos afirmaram não possuir carteira assinada ainda; destes, 70% estão matriculados em algum curso de pós graduação no país e 30% estão, de fato, desempregados. É um número relativamente alto e, torna-se mais impressionante, quando separamos esses dados em relação aos profissionais formados no ensino privado e os que obtiveram seu diploma por uma universidade pública. Pode-se observar que o número de biólogos que estão empregados, e também os desempregados, é maior entre os profissionais formados na universidade privada, em relação àqueles formados na universidade pública. Isso porque 82% dos biólogos formados na universidade pública dão sequência aos estudos na pós graduação, o que leva a sugerir que o número de desempregados poderia ser ainda maior. Com relação a isso, ficam algumas questões a serem debatidas: será que os alunos que vão para a pós graduação estão, de fato, preparados e engajados na carreira acadêmica ou essa seria apenas uma opção de mercado? Existiria, entre os biólogos, um certo medo ou resistência ao mercado de trabalho?



Em relação a remuneração desses profissionais, segundo a Instrução N° 09/2010 do CFBio, o salário base do biólogo deveria corresponder a 6 salários mínimos vigentes, o que hoje (março/2014) seria de aproximadamente R$ 4.344,00. No entanto, a realidade observada é bem diferente. De acordo com os entrevistados, 40,8% disseram ser remunerados na faixa de R$ 2.000,00 a R$ 3.000,00 o que equivale a aproximadamente 2,76 salários mínimos atuais. Ou seja, estão recebendo 2 vezes menos o que, de fato, deveriam receber. Vale ressaltar que, nessa questão, não houve a separação entre biólogos empregados e aqueles que estão cursando a pós graduação, sendo assim esse dado poderá estar, ou não, sub ou superestimado, uma vez que o valor de uma bolsa de mestrado e doutorado, no país, está inserida nessa faixa salarial.  



Para finalizar, perguntamos aos entrevistados se estavam satisfeitos com a sua profissão e, ao todo, 44,8% disseram não estar satisfeitos com a sua condição, sendo que 7,8% deles afirmaram que pretendem mudar de área futuramente. A maior parte dos entrevistados (52,2%) afirmaram que estão satisfeitos, no entanto acreditam que o biólogo deveria ser mais valorizado; e, apenas 3% dos entrevistados, disseram que o mercado de trabalho superou suas expectativas. 
Contudo, não sei se é possível afirmar que fiquei surpreso com este resultado, pois, na verdade, as experiências vividas durante a graduação permitiram ter uma pequena noção de como as coisas andam para a Biologia. Atualmente, uma grande quantidade de novos cursos surgem em diversas universidades do país, voltados a áreas mais específicas da Biologia, limitando, cada vez mais, o campo de atuação do biólogo, dominado por engenheiros e por pessoal de formação técnica em alguma área específica. E, para piorar, as vagas em cargos públicos tem sido preenchidas por pessoas formadas em qualquer área do conhecimento, independentemente de estarem ou não ligadas à Biologia. Como é o caso do IBAMA, por exemplo, em que, para o preenchimento de vagas no cargo de Analista ambiental, é exigido apenas a apresentação de diploma de conclusão de curso de graduação de nível superior em qualquer área do ensino. SIM! ISSO É REAL! Ou seja, um profissional formado por um curso de Biologia, com aproximadamente 3600 horas de conteúdo, voltados, principalmente, a áreas como Zoologia, Botânica, Biodiversidade, Comportamento Animal, entre outras, tem a mesma aptidão que um profissional formado nas áreas de Humanas ou Exatas, por exemplo, para ocupar o cargo de Analista ambiental do principal órgão do país que fiscaliza a preservação e a conservação do patrimônio nacional!
De quem é a culpa? Falta postura de parte dos nossos Conselhos Regionais e do Conselho Federal da Biologia para reverter esse quadro? O biólogo, profissional de amplo conhecimento e produção científica (basta ver a quantidade de prêmios Nobel de Fisiologia ou Medicina entregues a profissionais desta área, inclusive os do ano passado – 2013), estaria mesmo sendo excluído deste cenário por seus competidores de mercado?

“Por Darwin” ... espero que não! 

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